Liberdade

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
Sophia de Mello Breyner Andresen

PraiaVerde fotografada por João Dias

liberdade foi sem dúvida o sentimento destas férias. as malas foram feitas com expectativas altas, a alma a precisar de mudar de endereço. cansei-me a mim própria de tanto pensar, de tentar compreender, de querer. primeiros dias mergulhada em leituras, passando de um livro para o outro pelo prazer de finalmente estar a ler algo mais que livros de trabalho, mas também como uma manobra de engano, evitando estar sozinha com o próprio pensamento. a cada manhã, a luz do sol esticava asas a que me podia agarrar. ao longo de passeios intermináveis foram surgindo novos caminhos, novas luzes, energias que há muito andavam a escassear e que talvez tenha procurado nos lugares errados. aos poucos sentir-me renovada, tranquila, preenchida. aproveitar o verão em tudo o que tem de melhor (e que já me andava a escapar há três anos). o quê que o verão tem? tem toalhas penduradas nas varandas, mergulhos, momentos de inércia banhados com os últimos raios de sol, conversas ao longo do mar, encontros inesperados, cheiro a sardinhas e pimentos, ameijoas e camarões, licor de amêndoa, areia nos pés, cabelos salgados e pele queimada, sangrias e gargalhadas, música no máximo e vidros abertos, saudades, gelados, páginas e páginas por ler, dias em branco para preencher. Já sinto falta… de tudo!